terça-feira, 12 de junho de 2007

Tanto carro

Um mar de carros. Seis e meia da tarde de uma sexta. Entre chuviscos que vão e voltam, dezenas de automóveis disputando vagas movediças. Calor. Sinfonia regida pelo furor das buzinas.

Eu penso nisso tudo, mas nada me estressa. Consigo me divirtir vendo. Estou sozinha. Sinto o calor e deixo a janela pela metade. Ouço e vejo o vizinho do Monza vermelho praguejar o trânsito e suar que nem um porco. Tem uma moça numa Pajero atrás de mim que permanece impassível dentro de sua bolha selada. Ela canta alguma coisa, percebo pelo meu retrovisor. Pelo dela, ela retoca o gloss.

Pra quê tanto carro, pra onde eles vão, meu Deus, perguntariam os olhos do meu Drummond da modernidade.

Tem um belo casal que conversa animadamente à minha esquerda. Minha vontade é de ficar olhando; estão tão lindos, mas não se pode olhar pra dentro do carro dos outros, é quebrar a cartilha de ética dos motoristas civilizados.

A fila do Monza vermelho anda e a minha fica parada, como previsto em outra cartilha, a de Murphy, a mesma que diz que a parte do pão com manteiga cairá sempre pra baixo.

Uma saveiro com meninos de sunga sobre a carroceria vira minha vizinha. Era de lá que vinha o som do Asa de Águia. Eu mereço. Meu olhar esbarrou com o de um deles, um meliante, diria meu pai, com uma garrafa de Birinight em uma mão e fazendo sinal com a outra para eu baixar o vidro, o que eu fiz imediatamente.

- Quer uma cerveja? - perguntou.
- Claro - respondi, natural.

Ele jogou a lata no carona, eu abri e bebi. Estava um pouquinho quente. Ele quis conversar, desceu do carro e veio até a janela, mas era feio e estava bêbado. Pra me salvar, o sinal abriu e eu falei: "Melhor você voltar pro carro, tchau".

E segui, até estacionar em novo engarrafamento, novas estórias.

Joana Rizério

2 comentários:

Unknown disse...

É a dama da poesia livre.

joanarizerio@gmail.com disse...

é o melhor amigo do mundo!!! beijo